O livro “Hospital Geral de Pedreira, 10 anos – Uma história de sucesso no atendimento público de saúde” traz um relato para lá de incomum entre nós. Num país em que as imagens de ambulatórios lotados e pacientes abandonados em macas pelos corredores de pronto-socorros aparecem quase todos os dias nos jornais, elogios ao bom atendimento hospitalar não são muito freqüentes. Pois o livro está repleto deles, e não são fruto de política oficial ou estratégia de marketing. Os bons resultados estão respaldados em pesquisas de satisfação com usuários, certificações de qualidade e desempenho medido em números.
A história do HGP, como é conhecido pela população de São Paulo, além disso, nos traz um pouco da trajetória dos movimentos populares por melhores condições de vida que remontam ao final da década de 1970. Estão lá descritos os primeiros passos das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na capital paulista, assim como a ação dos médicos sanitaristas, os mesmos que ajudaram a mudar o quadro de saúde do país lutando por princípios universalistas que deram origem ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Localizado na Zona Sul de São Paulo, o Hospital Geral de Pedreira é modelo para todo o estado. Sua gestão administrativa é realizada pela Associação Congregação de Santa Catarina, uma das maiores instituições filantrópicas do Brasil, que está à frente do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, e da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, ambos muito conceituados. As irmãs Santa Catarina aceitaram o desafio de trabalhar em parceria com o governo estadual dentro de um modelo administrativo inédito, o das Organizações Sociais de Saúde (OSS), implementado na primeira gestão do governador Mário Covas. Um programa que, a despeito das inúmeras críticas recebidas, confundido com uma tentativa de privatização da saúde pública, se mostrou competente e inovador.
O relato é feito em formato de texto-reportagem, de autoria da jornalista Paula Quental, da Hipermeios, que, ao lado de Amaranta Vieira Rocha assina também a pesquisa. É enriquecido por crônicas (de Gonçalo Luiz de Melo), fotos (Luiz Barros Braga), aquarelas (Plínio Rhigon) e o projeto gráfico de Ana Whitaker Penteado, em uma edição bancada pela própria Associação Congregação de Santa Catarina. Pela leitura de suas páginas entendemos como foi possível atingir tamanho sucesso desde a abertura do hospital até hoje, instituição com capacidade para atender gratuitamente todos os meses cerca de 25 mil pacientes no pronto-socorro, fazer 1.300 internações, mais de 400 cirurgias, mais de 230 partos e 50 mil exames de diagnóstico por imagem e laboratoriais, com atendimento de cerca de 500 médicos e mais de 1000 funcionários.
A história é contada com emoção, pois não mostra somente as grandes inovações em tecnologia de ponta e investimentos em projetos, instalações, ampliações, equipamentos, equipe qualificada e lançamentos de diversos programas de incentivo – ela também conta sobre a participação ativa de seus usuários e de todas as pessoas que não se contentaram apenas com a conquista do lugar, reunindo-se rotineiramente e batalhando para ajudar no crescimento de um hospital cada vez mais humanizado. Sua meta é ambiciosa, porém realista: o de ser reconhecido como o melhor hospital público do país em gestão de saúde em 2010.
Um dado interessante é a transformação que o Hospital Geral de Pedreira ajudou a operar nos bairros próximos. Desde que entrou em funcionamento, aderiu à mobilização para a criação de novas linhas de ônibus, instalação de postes de iluminação pública, realização de obras de saneamento básico, além de passar a contribuir com cerca de R$ 4 milhões mensais em salários para a economia da região. O HGP cresce a todo instante, está sempre em obras para ampliar a sua capacidade de atendimento, que aumenta, em média, 18% ao ano. Sem dúvida uma história que é um alento para quem acredita no país e que vai surpreender muita gente.