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Como vive quem depende das bolsas de pesquisa?
 
Mesmo com reajustes anunciados pelo governo, estudantes têm dificuldades para viver com os valores recebidos.
 
11 de junho de 2012
por Aline Nogueira de Sá
 

O surgimento de novas tecnologias e conhecimentos importantes para o desenvolvimento do País também depende de estudantes que se dedicam à pesquisa nos cursos de graduação, mestrado e doutorado.

Vem das universidades, por exemplo, os avanços no combate à Doença de Chagas, a criação de um chuveiro elétrico com mais eficiência energética e ecologicamente correto, o desenvolvimento de um plástico biodegradável a partir de bagaço de cana-de-açúcar e o mapeamento da biodiversidade de São Paulo para, entre outros objetivos, avaliar as possibilidades de exploração econômica sustentável de plantas e animais.

Por trás dessas pesquisas estão estudantes e cientistas em sua maioria remunerados com bolsas de estudos concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelas fundações estaduais de amparo à pesquisa. Porém, os valores das bolsas, que deveriam garantir que eles tivessem tranquilidade para se dedicar exclusivamente aos estudos, são alvo constante de críticas.

Hoje, no Brasil, os alunos de mestrado ganham em média R$ 1,2 mil; de doutorado, R$ 1,8 mil; de pós-doutorado, R$ 3,3 mil.

Segundo anunciou o governo federal, a partir de 1º/07, os valores pagos pela Capes e CNPq sofrerão um reajuste de 11% a 12%, o que, para os estudantes, não diminui, como deveria, a dificuldade financeira que enfrentam pela dedicação aos livros.

Com valores defasados em relação aos salários de mercado – defasagem reconhecida pelo próprio ministro da Educação Aloizio Mercadante, no portal do MEC –, as bolsas desestimulam o ingresso e até a continuidade nos programas de pós-graduação. Elas não cobrem o custo de vida na maior parte das grandes cidades do País.

''Tenho colegas que, mestres, já no mercado de trabalho, hesitaram em prestar o doutorado por saber que, ainda que se sentissem mais engajados e estivessem produzindo novos conhecimentos, seus ganhos seriam reduzidos pela metade'', conta Monise Fernandes Picanço, 25 anos, ela própria bolsista e mestranda em Sociologia na Universidade de São Paulo (USP).

Renda extra

A função de um pós-graduando é construir conhecimento a partir do estudo de outros acadêmicos e da própria pesquisa. A dedicação é integral e, não por acaso, muitos contam com a ajuda financeira dos pais até concluírem os estudos.

Também é comum encontrar pesquisadores que fazem ''bicos'' para complementar a renda, que vão da venda de bolos até trabalhos como freelancer aplicando entrevistas qualitativas e questionários para empresas de pesquisa de mercado, fazendo transcrições, traduções, dando aulas de línguas.

O pós-graduando e bolsista pode ainda estagiar no programa de aperfeiçoamento de ensino, colaborando com um professor (geralmente o orientador). Esse estágio, em geral, vem acompanhado de uma bolsa complementar de R$ 508,00.

Investimento nos estudos

Bolsista desde a graduação, Monise, que pretende ingressar no programa de aperfeiçoamento para ganhar a bolsa complementar e aumentar sua renda, dedica 40 horas semanais às atividades de leitura e escrita.

Apesar de viver apertada, investe mensalmente 25% do que recebe da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em um curso de francês, fundamental para sua área. Saiu da casa dos pais na Região Metropolitana de São Paulo para dividir um apartamento de 1 dormitório na capital com o namorado. Assim, economiza tempo e dinheiro com transporte.

Com a autoridade de quem se dedica anos à pesquisa, diz que o Estado deveria investir mais nas bolsas: ''É também o trabalho do pesquisador que faz o País crescer. É preciso que ele possa se dedicar exclusivamente à pesquisa, para que o seu trabalho renda frutos à sociedade. ''


 

 
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