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Matheus Souza: 'É pretensioso fazer um longa aos 20. Por isso, falo de um assunto que conheço: minha vida, meus amigos, minhas conversas.'
 
Em entrevista para o Bradesco Universitários, o estudante de cinema da PUC-Rio falou sobre a aventura de rodar "Apenas o Fim" sem recursos, levar o filme a festivais, onde foi bem recebido por crítica e público, e fazê-lo chegar ao circuito comercial.
 
24 de abril de 2010
por Camila Passetti
 

Matheus Souza

Com apenas 20 anos, Matheus Souza decidiu que produziria seu primeiro longa-metragem. Durante as férias do curso de cinema da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-SP), reuniu um grupo de amigos e rodou, praticamente sem recursos, "Apenas o Fim". O filme, que mostra os últimos momentos de um namoro que está prestes a terminar, em uma atmosfera típica da geração de 1990, conseguiu o feito de ser escolhido como Melhor Filme do Júri Popular tanto do Festival do Rio 2008 como da 32º Mostra Internacional de São Paulo, no mesmo ano. Do Festival do Rio recebeu ainda a Menção Honrosa do Júri Oficial. Como se não bastasse, o longa do estreante Matheus - que tem no elenco, entre outros, Erika Mader e Gregório Duvivier - foi exibido em circuito comercial e selecionado para festivais internacionais na Polônia, França e Estados Unidos. A seguir, a entrevista concedida por ele, com exclusividade, ao Bradesco Universitários:

Como surgiu a ideia do filme e quanto tempo, do projeto à finalização?

Matheus Souza - Tudo começou quando eu estava no terceiro período da faculdade, em meados de 2007, e queria fazer um filme. Mas era difícil encontrar uma galera, porque todo mundo só fazia filme com as turmas mais avançadas. Aí pensei em uma ideia maluca, que foi justamente fazer um longa, mas tinha que ser algo possível. Pensei em usar as câmeras da faculdade, que só podem ser usadas nas férias e sem sair do campus. Bolei um roteiro em que a história se passava dentro da faculdade, focado no diálogo, simples assim... Chamei dois amigos do curso de teatro, o Gregório e a Érika, e alguns amigos da faculdade para fazer parte da equipe técnica. Gravamos no início de 2008 e em duas semanas editamos. Mas, quando estava pronto, percebemos que não tínhamos a menor ideia do que fazer com ele. Decidi mostrar para a Mariza Leão, produtora de grandes filmes, como "Meu nome não é Johnny" (direção Mauro Lima), que também é professora do curso na PUC. Ela adorou e me chamou para conversar. Foi ela quem nos ajudou no caminho final das pedras, que era justamente o que não sabíamos fazer, como finalização de som e imagem (digitalização para cinema), entre outras coisas. Nos inscrevemos para o Festival do Rio de Janeiro 2008 e passamos. Fomos para a mostra competitiva e ganhamos.

É verdade que parte da verba levantada para a produção veio de uma rifa de uísque?

É verdade. Para levantar a verba do filme - cerca de R$ 8 mil reais -, conseguimos metade com a vice-reitoria de desenvolvimento da faculdade e a outra metade juntando uma grana para comprar um uísque e fazer a rifa. Como o curso de cinema na PUC é muito novo, tentei convencer a faculdade de que, se desse certo, seria a melhor forma de propaganda para o curso. Felizmente, deu certo.

Foi difícil convencer os atores a aceitar o convite?

Foi tranquilo. Eu havia escrito pensando neles mesmos. Eles adoraram o roteiro e embarcaram numa boa.

Você comentou que a sua maior dificuldade durante as filmagens foi saber "quem iria pagar o pão na chapa no dia". Afinal, quem pagou o pão na chapa e como você convenceu a equipe a ficar praticamente a "pão e água"?

Pois é, né? Nós dividíamos tudo. Cada dia, um pagava o pão na chapa. Mas acho que o pessoal acreditou muito no projeto e no roteiro, que podia dar certo. Nós filmamos nas férias com uma galera que podia ter ido para Búzios, mas preferiu ficar para fazer o que mais gostariam, um longa-metragem. Todo mundo ali é apaixonado por cinema e queria muito fazer isso.

De onde surgiu a ideia do roteiro?

Eu já estava fazendo algo pretensioso, um longa aos 20 anos de idade. Sabendo disso, resolvi falar de um assunto que sei falar: do universo da minha vida, meus relacionamentos, conversas com amigos. Com base nisso, criei o roteiro. Nunca passei por um término como o do filme, mas claro que já passei por um término.

Você afirmou que o personagem do Gregório tem muito a ver com você, certo? Isso aconteceu sem querer ou foi intencional enquanto escrevia a história?

Foi intencional em partes. Como o que eu sabia fazer era falar sobre mim, acabou que muito do personagem ficou parecido comigo, ele realmente tem uns trejeitos meus. Até os amigos "zoam" bastante.

Qual o papel do curso de cinema na sua estreia como diretor de longa?

O principal que um curso te oferece, seja ele qual for, é você poder ser "chato" com o professor, não deixar a aula acabar na hora que acaba. Trocar ideias, experiências, questionar... Tinha aula de direção com o Walter Lima Júnior, e sempre que acabava sua aula eu ia até ele para conversarmos um pouco. É desse tipo de papo que aprendemos muitas coisas, além do que vem dos ensinamentos do próprio curso.

Conte-nos como foi o papel da internet na produção e /ou divulgação do longa-metragem.

Ajudou bastante. Para a divulgação, não tínhamos verba, então contamos com a internet como arma. Tivemos apoio de alguns sites com perfil jovem, que se identificaram com o filme, como o Omelete. Muitos que o assistiram no Festival ajudaram fazendo divulgação no Twitter.

Sinceramente, se tivessem pedido para apostar no sucesso do filme antes de sua estreia, teria dito sim? Acreditava no potencial da produção?

Não fazia a menor ideia. Não sei se apostaria, talvez blefando, sim. Na verdade, foi mais ou menos o que fiz (risos). Claro que eu queira que fosse para o Festival do Rio, mas é um filme que fiz com meus amigos e tal. Nunca imaginei que fosse passar na seleção, ganhar e entrar em cartaz. Se eu soubesse de tudo isso, acho que teria feito ainda melhor.

Qual a sensação de realizar um grande sonho como esse?

É muito bacana. É bem legal. Mas tenho que tomar cuidado para não sair disso. Me empenhar para continuar nesse caminho. Esse é um momento muito importante da minha carreira.

Você acredita que o cinema brasileiro vive uma fase de ascensão, sem precisar usar temas como violência, pobreza ou sexo para poder se destacar tanto aqui como no exterior? Pensou nisso durante o projeto do filme?

Acredito que estamos numa boa fase. Não sou um grande teórico do cinema brasileiro, mas o que posso falar como espectador é que estamos numa boa safra de filmes. Nosso cinema aprendeu a fazer, e muito bem, o "favela movie", que não tenho nada contra. Mas tudo em excesso cansa, como comédia romântica americana, por exemplo. Acredito que temos variedades como o "Cheiro do Ralo" (direção Heitor Dhalia), "Estômago" (Marcos Jorge), "Linha de Passe" (Walter Salles e Daniela Thomas), que, mesmo não tendo como foco a favela, são ótimos filmes. Mas o que aconteceu é natural. Quando esse tipo de filme surgiu, os primeiros se destacaram mais. Tudo vem em ondas, agora há mais espaço para outros estilos.

Você é um profissional antes mesmo de se formar. Na sua opinião, o que qualifica um profissional de verdade (independentemente da área)?

Um bom passo é quando você começa a sentir. Por exemplo, logo quando ganhei o Festival, fui preencher uma ficha com todos aqueles quesitos, como nome, profissão, sexo... Em profissão, não quis colocar estudante e escrevi cineasta, mas na hora me senti um fanfarrão. Dia desses, tive que preencher outra ficha como essa, e pus no espaço "profissão" roteirista. Aí me senti como um roteirista de verdade, porque estou fazendo isso há um certo tempo, trabalho nisso profissionalmente e por contrato assinado. Então, quando a gente sente que aquilo é real, que "a ficha cai", nos sentimos parte daquele universo.

É comum ouvirmos comentários de que o mercado cinematográfico exige, além de talento, muita sorte ou um histórico familiar. Você concorda com isso? Por quê?

Minha mãe é dentista e meu pai é analista de sistemas. Talvez sorte então, porque o meio é realmente difícil. No meu caso, o papel da sorte foi tudo ter acontecido no momento certo. Se eu tivesse feito um ano antes, por exemplo, o filme poderia não ter se sobressaído.

O que aconselha a um jovem que pretende ingressar na carreira cinematográfica?

Filmar. Ter uma ideia e juntar os amigos para filmar. Se ficar bom, ótimo, se não ficar, com certeza vale como aprendizado. A faculdade também é bacana e ajuda bastante.

Já tem projetos em andamento ou planos futuros?

Não tenho preconceito com nenhum meio, tanto que dois dos diretores brasileiros que eu mais admiro, o João Falcão e o Domingos Oliveira, são multimídia e trabalham com teatro, cinema e televisão. Acabo de estrear a primeira peça que estou dirigindo: "Confissões de Adolescente". Readaptei o texto inteiro, e agora está em cartaz aqui no Rio (de Janeiro) no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea. Tenho projetos de seriados, mas o cinema é a minha paixão, meu foco sempre.

Bate-bola

Roteiro ou direção: roteiro, direção e atuação.
Cineasta: Wes Anderson.
Gosta de ler... livros, revistas e histórias em quadrinhos.
Gênero de filme: "dramédia".
Um ídolo: Woody Allen (é clichê, mas é verdade).
Um sonho: casar com a Scarlett Johansson.
Uma tristeza: não ter sido eu o diretor de um "Brilho eterno de uma mente sem lembrança" (direção Michel Gondry).
Um momento inesquecível: a estreia lotada de "Apenas o fim" no Festival.
Um filme inesquecível: "Brilho eterno de uma mente sem lembrança".
Uma perdição: Zooey Deschanel.
Um sonho profissional: continuar trilhando o caminho que comecei.
Hora de ver TV: em nenhum momento.
Para se divertir: ir ao cinema, jogar Rock Band e sair com os amigos (não necessariamente nessa ordem).
Play list básica do iPod: Rock, MPB e The Killers.
Uma frase: Uma pessoa percebe que cresceu quando começa a gostar mais de molho shoyu do que de catchup (é uma frase de um roteiro que estou desenvolvendo).  

Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 02/12/2009

 
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