Todos sabemos que produzimos muito lixo e como é importante reciclá-lo. No entanto, muitas são as dúvidas a respeito da separação dos materiais, sobre o que é ou não reciclável, o que pode ser reaproveitado, além de quais devem ser as mudanças de comportamento para enfrentar o que hoje é um dos maiores desafios ambientais.
"O problema do lixo é um problema de imaginário cultural. A questão central está nas consequências da urbanização, pois as cidades se urbanizaram, mas continuam tratando o lixo como antigamente, apenas enterrando-o", afirma a consultora em minimização de resíduos e diretora da Menos Lixo, empresa que trabalha com projetos e educação em resíduos sólidos, Patrícia Blauth.
De acordo com a educadora ambiental, os principais problemas que envolvem o lixo são a mentalidade de ainda se enterrar qualquer tipo de material - biodegradável ou não -, o consumo desenfreado e a descartabilidade dos produtos, que duram cada vez menos.
Porém, há ainda, também, uma grande desinformação sobre os serviços de coleta seletiva de lixo nas cidades, e sobre como cada cidadão deve proceder para fazer a sua parte.
Como, o quê e onde reciclar?
Para quem gostaria de implantar a reciclagem em sua rua ou condomínio, Patrícia Blauth aconselha que entre em contato com a prefeitura da cidade ou qualquer outra autoridade da região que possa orientá-lo sobre a coleta de lixo. "Praticamente todos os municípios têm este tipo de trabalho, mas a maioria das pessoas não sabe".
Segundo a consultora ambiental, é importante se informar, pois os materiais reciclados variam conforme cada região. "Tudo depende das empresas que estão próximas da região em questão, pois são elas que reciclam os materiais, utilizando-os para a produção de novos itens", explica.
E continua: "Sendo assim, não adianta separar vidro se naquela região não há empresa que possa utilizá-lo. E é por isso também que consultar lista de materiais recicláveis na internet não significa, necessariamente, que aquele material vá ser reciclado".
A consultora esclarece que reciclagem é um processo industrial do qual fazem parte três agentes: o gerador - que somos nós consumidores e produtores de resíduos - que descarta o material; o coletor - empresa ou cooperativa responsável por retirar o material e separá-lo em diferentes categorias -; e a indústria - onde o material é efetivamente reciclado.
"Se os materiais forem mal descartados, ou seja, estiverem sujos e inadequados para reaproveitamento, ou se a triagem na separação dos materiais for mal feita, misturando materiais, a reciclagem não será efetiva, já que o resíduo que inicialmente seria encaminhado para ser reciclado acaba sendo descartado", diz Patrícia.
Materiais recicláveis
Muita gente já sabe, mas sempre é bom relembrar: o lixo reciclável deve ser limpo e seco, e separado do lixo orgânico.
Um dos principais materiais recicláveis é o papel. Todos os tipos de papéis podem ser reciclados, inclusive papelões e embalagem do tipo leite longa-vida. Não se separaram, no entanto, papéis com restos de comida e outras matérias orgânicas, como embalagens de pizza, papel sanitário e pontas de cigarro.
Quanto aos metais, reciclam-se latas, tampas, pregos e parafusos. Os vidros também podem ser reciclados, menos lâmpadas, cristais, espelhos, vidros temperados, cerâmica. E, por fim, quanto aos plásticos, todo tipo pode ser reciclado, como peças de plástico duro, sacolinhas plásticas, garrafas PET.
Para além das políticas públicas
Segundo a consultora, cabe a cada um de nós fazer a nossa parte, não apenas por orientação de políticas públicas ou órgãos envolvidos com o tema, mas, especialmente, pelo conhecimento dos benefícios que algumas atitudes trazem ao nosso dia a dia.
Apesar do senso comum de que não se deve usar nenhum material que não seja reciclável, a realidade mostra que é inevitável fazer uso de plásticos, papéis ou metais em nosso cotidiano. O mais importante, portanto, é saber como utilizar estes materiais de forma consciente e adequada.
Para isso, a consultora e diretora da Menos Lixo destaca a importância da educação ambiental. "É preciso sensibilizar a população. Não apenas ensiná-la e orientá-la a fazer o uso correto dos materiais, mas criar um vínculo de amor entre o indivíduo e o ambiente. É fazer com que ele entenda e goste de trocar o copinho descartável por uma caneca no escritório, por exemplo".
Essa educação, porém, não exclui a necessidade de políticas públicas. Mas ela lembra que, para que elas sejam efetivas, a população precisa cobrar dos governos. "É preciso que haja a política do resíduo, ou seja, que se controle e direcione a ação para a produção de resíduos".
Matéria produzida para o site Bradesco Universitarios em 20/10/2010