Em uma iniciativa pioneira no país de órgão público e instituição de ensino superior, a Universidade de São Paulo (USP) inaugurou um centro de reciclagem e descarte de lixo eletrônico. Computadores, impressoras e celulares que seriam jogados no lixo comum - situação danosa para a natureza e a saúde humana - agora podem ter componentes reaproveitados e destino ecologicamente correto.
Nos primeiros meses de funcionamento, em 2009, o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), como é chamado, abriu suas portas apenas para equipamentos obsoletos da própria USP, mas, a partir de 1º de abril deste ano, o centro receberá máquinas e peças descartadas das mãos de qualquer cidadão. Porém, há uma ressalva: só serão aceitos materiais de pessoas físicas, não de empresas.
A notícia chega em boa hora: segundo estudo recente divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em fevereiro, o Brasil é um dos países que mais preocupam no que diz respeito à produção de lixo eletrônico (ou e-lixo, como é chamado por ambientalistas), em função do aumento do consumo de bens como computadores, máquinas fotográficas, televisores, celulares, entre outros.
O relatório reclama que o país não apresenta dados confiáveis nem estimativas sobre a quantidade de lixo eletrônico produzida e sobre a destinação específica desse tipo de rejeito. O lixo eletrônico está crescendo exponencialmente em todo o mundo, alerta a ONU, e especialmente nos países emergentes, como o Brasil.
No Cedir, segundo a coordenadora do projeto e diretora do Centro de Computação Eletrônica (CCE) da USP, Tereza Cristina Carvalho, equipamentos como monitores, CPUs, impressoras, mouses, celulares passam por uma seleção e têm suas peças separadas e trituradas para depois serem vendidas às poucas empresas que trabalham com a reciclagem de cada componente ou utilizadas em computadores remanufaturados.
A ideia é aproveitar cada parafuso e tornar o centro autossustentável financeiramente. O projeto tem atualmente capacidade para caracterização, triagem e destinação de 500 a 1000 equipamentos por mês e está instalado em uma área de 400 metros quadrados, com acesso para carga e descarga de resíduos.
Para dar conta do trabalho, o centro tem cinco funcionários, sendo que três técnicos trabalham para desmontar as toneladas de equipamentos. Os equipamentos e peças que ainda estiverem em condições de uso são avaliados e enviados para projetos sociais. No final de sua vida útil, tais equipamentos deverão ser devolvidos pelos projetos sociais à USP, para que recebam destinação sustentável.
Assim, evita-se o descarte desses materiais no lixo comum. ''Se jogado em lixões ou aterros, o chumbo, em contato com a chuva, é carregado para as afluentes'', explica Tereza.
Segundo ela, o fato de o país contar com ''abundância de recursos naturais e muita variedade'' pode explicar certo atraso na conscientização da população quanto à importância da reciclagem também de eletrônicos. Os europeus, segundo ela, estão andando mais na linha nesse quesito. ''Na Europa há leis que obrigam as empresas a venderem o 'micro verde', que não é fabricado com chumbo''. Além disso, o responsável pela venda de um equipamento é também o responsável por sua reciclagem.
Em contraponto, uma péssima situação que também não pode ser ignorada é que muitos países ricos têm exportado o lixo eletrônico para países mais pobres, com a intenção de livrar-se da maneira mais simples do problema. O que torna a necessidade de investimento nos centros de reciclagem ainda mais urgente em todo o mundo.
Cenário preocupante
Para se ter uma ideia do tamanho do problema que representa o lixo eletrônico hoje no mundo, os Estados Unidos, campeões mundiais em produção desses resíduos, acumulam 3 milhões de toneladas ao ano. O segundo lugar, a China, produz 2,3 milhões de toneladas.
Segundo a organização não governamental Greenpeace, são geradas de 20 a 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico no mundo a cada ano, o que responde por 5% de todo o lixo sólido do planeta - quantia similar à das embalagens plásticas, mas que pode ser ainda mais perigosa.
O e-lixo, se depositado no lixo comum, pode contaminar rios, reservatórios de água e o solo com materiais que causam distúrbios ao organismo, afetam vários órgãos e podem levar à morte. Entre os componentes mais perigosos dos aparelhos eletrônicos estão o arsênio, cádmio, bário, cobre, cromo, níquel e o chumbo, considerado o mais tóxico de todos os elementos.
Quando queimados por sucateiros atrás de metais nobres como cobre e ouro, esse tipo de resíduo libera toxinas muito prejudiciais à saúde humana. ''Cada um dos materiais tem suas consequências'', diz Felipe Fonseca, pesquisador e colaborador do site Lixo Eletrônico (www.lixoeletronico.org) .
''Não é preciso dizer que, com o volume cada vez maior da produção e do consumo de equipamentos eletrônicos, além da tendência da indústria a forçar a sensação de obsolescência – o que leva as pessoas a trocarem seus aparelhos com pouco tempo de uso, mesmo quando não precisam de novos – fazem crescer a quantidade de equipamentos descartados'', afirma.
Ele continua: “Como os materiais dos quais os equipamentos são feitos não são biodegradáveis, é necessário pensar em alternativas responsáveis e ambientalmente corretas de reuso e descarte efetivo desse tipo de equipamento”.
Como funciona o Cedir e outras opções
Quem quiser levar seus eletrônicos usados para o CEDIR a partir de abril terá de agendar visitas pelos telefones (11) 3091-6455 ou (11) 3091-6454. Dúvidas sobre que material pode ser levado podem ser tiradas pelo e-mail cedir.cce@usp.br.
Existem mais locais na cidade onde se pode descartar pilhas, celulares e outros materiais eletrônicos e que podem ser encontrados com a ajuda de um site criado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em parceria com o Instituto Sérgio Motta: o e-lixo maps (www.e-lixo.org).
No site, inserindo o CEP e o tipo de e-lixo que se pretende descartar, é possível encontrar todos os locais mais próximos de casa que recebem esse tipo de resíduo.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 5/03/2010.