Utilizado no Oriente há milhares de anos, o gengibre (zingiber officinalis), um rizoma (caule que nasce sob a terra), caiu de vez no gosto do brasileiro, apreciador das culinárias que abusam do alimento, como a japonesa, tailandesa, chinesa e indiana.
Mas além de ser um excelente ingrediente, suas propriedades são capazes de combater náuseas, enjoos, gases intestinais, indigestão, rouquidão, doenças do sistema respiratório como asma, bronquite e catarro crônico, congestão nasal, dores de garganta, artrite reumatóide, osteoartrite, dores musculares e nas articulações, entre outros problemas.
''Desde a introdução do gengibre na Europa Ocidental, ele tem sido indicado como remédio para controlar náuseas e enjoos, e estudos clínicos feitos mais recentemente têm apresentado resultados favoráveis no uso do gengibre na prevenção e controle desses sintomas, que acometem muitas pessoas quando em viagens de avião e em outros meios de transporte'', conta a nutricionista e gerente técnica do Conselho Regional de Nutricionistas (SP-MS) Solange de Oliveira Saavedra.
Segundo ela, uma grande vantagem desse rizoma é que ele não produz efeito sobre o sistema nervoso central, comum a muitos remédios empregados para aliviar enjoos. ''Portanto, os pesquisadores sugerem que o gengibre produz um efeito antienjoo local, agindo diretamente sobre o sistema digestório'', explica.
No caso de gripes e resfriados, ele pode ser um grande aliado. O ideal é preparar um chá e consumi-lo entre as refeições. A médica ainda explica: ''Um pedacinho de gengibre cru na boca pode ajudar a eliminar a rouquidão e acalmar a tosse. Para isso, já existem no mercado cristais de gengibre (doce e salgado) que também ajudam nesses problemas de voz e garganta''.
Além dos seus efeitos medicinais que agem diretamente nesses problemas de saúde, sua capacidade de esquentar o corpo provoca uma aceleração no metabolismo, ativa a circulação, estimula a mente e mantém a vitalidade.
Cuidados básicos
Porém, é importante frisar que mesmo as ervas, raízes ou rizomas usados como fitoterápicos, como o gengibre, podem causar efeitos colaterais em alguns casos. ''Por serem naturais, eles passam a ideia de serem inócuos, sem riscos'', ressalta Solange.
Alguns estudos observaram que a utilização de medicamentos ou drogas fitoterápicas alteram a coagulação sanguínea. Em casos de pré-operatório, por exemplo, muitos pacientes não relatam ao cirurgião o consumo de fitoterápicos, por considerar que não há contraindicações.
''Dentre os fitoterápicos que alteram a coagulação sanguínea, está o gengibre, o que poder gerar complicações no pós-operatório (risco de sangramento). Portanto, até o uso de fitoterápicos deve ser relatado aos profissionais de saúde, em especial ao médico, principalmente se ocorrerá um procedimento cirúrgico'', ela alerta.
Como usar e consumir
De acordo com o Ministério da Saúde, o gengibre deve ser usado sob a forma de infusão ou decocção (chás).
Solange ensina: ''A infusão consiste em despejar água fervendo sobre a substância, neste caso o gengibre (bem cortado), abafar e deixar repousando por um período de cerca de 10 a 15 minutos. No caso do gengibre, como é mais grosso, a sugestão é deixá-lo repousando por mais tempo, cerca de 20 a 30 minutos, e depois, coar e tomar''.
Para fazer o chá, basta colocar os pedaços em uma panela, adicionar água fria, tampar a panela, e levá-la ao fogo para o cozimento, que pode variar de 15 a 30 minutos. ''Após o cozimento é recomendável deixar descansando por alguns minutos, coar e tomar'', acrescenta.
A nutricionista explica que existem outras indicações para uso do gengibre, mas que não há evidências científicas que comprovem sua eficácia. Mesmo assim, ela ensina:
''Como cataplasma (uso externo), ele é bem ralado, amassado em um pano e colocado sobre o local - indicado para reumatismos e traumatismos na coluna vertebral e articulações'', afirma.
Ela continua: ''Fresco, ele serve para rouquidão e limpeza da garganta e é mascado em pedaços. Ele também pode ser ralado e adicionado a xaropes, juntamente com outras plantas''.
Novamente, ela chama a atenção sobre as plantas que serão misturadas no xarope. ''Só por serem substâncias vegetais e tratadas como fitoterápicas não quer dizer que são inócuas. Existem contraindicações e riscos no uso indiscriminado de vegetais tidos como fitoterápicos'', ressalta.
Na culinária
No Brasil, o uso mais popular do gengibre é no quentão, mais consumido nas épocas de Festa Junina, ou seja, no frio, graças a sua capacidade de aquecer bastante o corpo. Mas ele também pode ser usado em sucos, sopas, saladas e refogados, onde dá um toque mais do que especial de sabor, picante, mas ao mesmo tempo adocicado.
Ele é encontrado sob diversas formas: in natura (fresco), seco, cristalizado, em pó e moído. ''O que não é recomendado é substituir um tipo pelo outro nas receitas, pois seus sabores são muito distintos: o gengibre seco tem sabor mais suave e o fresco é mais aromático'', Solange dá a dica.
''Gradativamente, o gengibre vem sendo incorporado em outras preparações, até porque a culinária oriental, em especial a japonesa, caiu no gosto de muitos brasileiros, e algumas dessas preparações utilizam essa especiaria no tempero de pratos como carne de porco e peixes, como o sashimi (peixe cru)'', conta Solange.
Fresco, ele é amplamente utilizado em boa parte da Ásia (China, Japão, Indonésia, Índia e Tailândia). Já no Japão, por exemplo, ele é usado sob a forma de suco (gengibre espremido) para temperar frango, e as conservas feitas com os rizomas são consumidas puras ou com sushi. Sob a forma cristalizada, é um dos confeitos mais consumidos no sudeste asiático.
O gengibre também faz parte da composição do curry, tradicional condimento indiano, cada vez mais comercializado no país. ''Ainda existe o molho shoyu, que muitas vezes é servido com o gengibre ralado bem fino, o que dá um toque todo especial ao tempero de algumas saladas e legumes grelhados'', destaca.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitarios em 22/07/2010