O primeiro passo para uma alimentação saudável é selecionar bem os alimentos que se coloca no carrinho do supermercado, e isso começa com a leitura dos rótulos. É o que ensina a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, do Centro Integrado de Terapia Nutricional, clínica com sede em São Paulo.
''Essa tarefa não é fácil, mas somente assim poderemos fazer escolhas mais adequadas e exigir dos órgãos responsáveis por essas informações que elas sejam mais claras e acessíveis'', afirma.
Ellen ensina: ''Quando lemos os rótulos precisamos inicialmente saber quantas calorias há por porção do alimento. Posteriormente, temos que prestar atenção na quantidade de gordura saturada e hidrogenada que ele carrega. Finalmente, é importante saber quanto de sódio ele contém''.
A nutróloga esclarece um ponto fundamental e explica que, nos supermercados, há uma grande variedade de alimentos contendo vitaminas, acrescidos de ferro e sais minerais, quantidades extras de fibras e de cálcio, com o intuito de concorrer pela preferência de um consumidor confuso em meio a tantas informações.
''O acréscimo de uma vitamina a um biscoito ou a um refrigerante não significa que esse alimento seja nutritivo, pois, muitas vezes, ele tem alto teor de sódio ou de gordura saturada'', diz. A gordura saturada (da manteiga) e a hidrogenada (da margarina), conhecida como gordura trans, não devem, juntas, ultrapassar 8% das calorias diárias.
''Diante de tamanha oferta, é preciso avaliar a necessidade de consumirmos salgadinhos, biscoitos, cereais matinais, gelatinas e até balas em versões fortificadas, uma vez que a maioria desses produtos não carrega quantidades importantes de nutrientes, não devem ser ingeridos à vontade e não substituem os alimentos naturais'', alerta.
Ellen acrescenta que ''não se justifica a utilização de alimentos questionáveis do ponto de vista nutricional somente porque eles foram fortificados com essa ou aquela vitamina''. Porém, ela lembra que existem alguns exemplos bem-sucedidos de alimentos fortificados no Brasil que são o sal iodado, a água fluoretada e a fortificação das farinhas de trigo e de milho com ferro e ácido fólico, que ajudam a combater a desnutrição.
Nos casos citados, Ellen conta que a suplementação vitamínica beneficia grande parte da população brasileira, conseguindo alcançar todas as classes sociais, nos diversos cantos do Brasil onde foi adotada.
Uma causa de todos
Na opinião da nutróloga, a falta de informação nos rótulos e o excesso de sal, açúcar e gorduras nos alimentos industrializados deveriam envolver mais os governos, que têm como obrigação desenvolver ações para incentivar a produção de alimentos mais saudáveis e de menor custo.
Outra sugestão é que as agências reguladoras de alimentos se empenhem em exigir rotulações exatas e de linguagem acessível ao público leigo (praticamente todos nós).
''Os governos devem sobretaxar alimentos mais calóricos e subsidiar alimentos mais saudáveis, tornando vantajosa sua compra, não somente do ponto de vista nutricional, mas também econômico. Todo e qualquer aumento excessivo no teor de açúcar e gordura dos alimentos deveria ser tributado e não o contrário, como ocorre na indústria de alimentos'', sugere.
Ela exemplifica: ''Hoje, um litro de leite desnatado é muito mais caro do que um litro de leite integral. Chega a ser ínfimo o preço de um pacote de bolachas recheadas em relação ao preço do pão integral''.
De acordo com a médica, essa política de prevenção parece ser a única forma eficaz e economicamente viável contra o avanço da obesidade no mundo, uma vez que o tratamento das doenças provocadas pelo sobrepeso impõe intoleráveis gastos aos sistemas de saúde dos países.
''Enquanto nosso arsenal terapêutico tem se mostrado frágil, muitas vezes deletério, precisamos contar com povos esclarecidos e motivados, uma indústria de alimentos engajada no mesmo esforço e governos responsáveis e interessados em declarar guerra contra a doença que vem desafiando pesquisadores e governantes'', defende.
O exemplo do sal
Segundo Ellen, a redução do sal nos alimentos (por exemplo, nos embutidos como salame, mortadela, presunto, salsicha) seria mais eficaz do que tratar todas as pessoas com hipertensão arterial, utilizando medicamentos específicos para isso.
Ela conta que a necessidade de redução do consumo de sal é bem antiga. Em 1981, o ''Food and Drug Administration'' (FDA), agência norte-americana, já havia declarado sua intenção de reduzir o sal dos alimentos processados.
Mas, desde então, pouca coisa mudou, além da obrigatoriedade da descrição da quantidade de sódio nos rótulos dos alimentos, medida também adotada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil.
O desafio é árduo, inclusive porque, de acordo com a médica, os alimentos processados e aqueles consumidos em restaurantes correspondem a quase 80% do sal ingerido no país.
Para quem come fora de casa, ela garante que a melhor estratégia para reduzir o sal é evitar o saleiro, uma vez que os alimentos já são normalmente preparados com mais sal e as saladas podem ser consumidas apenas com azeite.
''Embora todos se beneficiem com a redução do sal, pessoas com hipertensão arterial, doenças cardíacas e hepáticas que causam retenção de líquidos e insuficiência renal devem reduzir o sal como parte fundamental do seu tratamento, pois o excesso de sal causa maior retenção de água, o que pode agravar essas condições clínicas'', destaca Ellen Paiva.
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Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 16/03/2010.