É o que diz o especialista em gestão de carreiras João Florêncio Bastos Filho, para quem, além disso, o profissional tem de estar atento para a necessidade da educação continuada.
“Isso pode ser feito por canais formais, pelo ensino a distância, de forma autodidata. Educação continuada é, primeiro, uma atitude, e a pessoa não pode ser passiva, tem de ir atrás do conhecimento”, explica ele.
Para João Florêncio, os jovens estão sendo impelidos a tomar decisões sobre o rumo profissional cada vez mais cedo. Muitos já têm contato com o mercado de trabalho antes de concluir uma graduação, valendo-se dos seus diplomas de curso técnico ou profissionalizante.
“Esse jovem não precisa do curso superior para se dar bem, e ele faz escolhas independentemente da faculdade. Pode-se dizer que hoje há mais opções, e que elas não passam pelo diploma”, diz.
Cursos de curta duração
Professor de pós-graduação de Gestão de Pessoas da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e consultor na área com certificação CMC (Certified Management Consultant pelo ICMCI, órgão da ONU), João Florêncio chama a atenção para a tendência de multiplicação, de cinco anos para cá, dos cursos de curta de duração, os chamados cursos tecnológicos.
Embora com um conteúdo mais técnico, focado em atividades profissionais bem definidas e especializadas, esse curso tem nível superior. Funciona como uma graduação, porém com duração de dois anos e meio, em média.
“Os cursos de curta duração lembram os cursos profissionalizantes, com um nome novo”, diz. Mas a questão aqui não é questionar a sua existência. Para o professor, a procura por este tipo de curso mostra que os jovens estão mais cedo focados no mercado, já sabendo o que vão fazer.
Isto não quer dizer que o curso universitário tradicional é dispensável, ele explica, mas que deixou de ser a única forma de ingresso na vida profissional, e numa bem-sucedida vida profissional. O valor do curso universitário virá do que se souber fazer dele, e isso o jovem vai decidir.
Esse tipo de atitude, diz o professor, vai cada vez mais permear toda a vida profissional. O século 21 está se caracterizando por uma mudança nas relações entre profissionais e organizações e a tendência é que a responsabilidade sobre os rumos da carreira fique a cargo dos indivíduos.
Âncoras, portos e timoneiros
Essa carga maior de decisão dos rumos profissionais jogada sobre os ombros do indivíduo como uma tendência dos novos tempos é o tema do livro que o professor João Florêncio lançou recentemente, “Gestão de carreiras – âncoras, portos e timoneiros” (editora Fênix).
De acordo com o especialista, o lado bom de ter mais responsabilidade é contar com mais opções de escolha. “Quanto mais opção melhor, isso também estimula a pesquisa”, diz.
No último capítulo do seu livro, João Florêncio lembra que no mercado de trabalho brasileiro, principalmente nos grandes centros, há uma valorização maior do conhecimento em poder dos colaboradores (sem vínculo empregatício tradicional), que promovem uma troca de informações “em velocidade estonteante, devido às facilidades da tecnologia digital”.
Em certo sentido, portanto, assumir a responsabilidade sobre os rumos da própria carreira poderá ser admitir a possibilidade de estabelecer novas formas de relacionamento com o trabalho, sem os tradicionais contratos de carteira assinada e presença física diária nas sedes das empresas.
E, segundo escreve o professor, “para perceber as principais tendências no mercado de trabalho, devemos nos conscientizar de que a educação continuada representa uma poderosa âncora, de que não podemos abrir mão, seja qual for o rumo que nossas carreiras venham a tomar”.
A educação continuada, segundo ele, sendo entendida como “um processo que, além de se prolongar por toda a nossa existência, não pode restringir-se à escola, mas precisa envolver todos os espaços onde ocorrem os relacionamentos interpessoais (família, comunidade e trabalho), visando a nos tornar responsáveis pela nossa própria educação”.
Por fim, o professor ensina que nos tempos atuais precisamos caminhar de posse de um conjunto de princípios e valores, a nossa “âncora”, que lançamos num “porto”, ou estágio da vida profissional, nunca deixando de agir como “timoneiros” da própria carreira.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em outubro de 2005.