A ideia de marca já não é exclusiva de empresas. Uma nova tendência no mercado de trabalho é os próprios profissionais criarem a sua marca pessoal, para facilitar a conquista de um emprego ou galgar novos degraus na carreira. Para auxiliá-lo nessa tarefa, existe o 'personal branding' (especialista apto a trabalhar a marca pessoal dos clientes), um conceito criado nos Estados Unidos e que começa a chegar no Brasil.
De acordo com um desses especialistas, a psicóloga, coach e personal branding Marie-Josette Brauer, a marca pessoal ou marca profissional são as características que servem como referência do profissional no mercado, é a sua reputação. E isso vale tanto para veteranos quanto para os que estão começando agora.
A questão, explica Marie-Josette, não é se existe ou não uma marca, porque todo mundo tem a sua – mas saber qual é essa marca e como trabalhá-la. "Se você souber o que as pessoas falam e pensam de você, saberá o que deve ser explorado ou corrigido para melhorar a sua imagem".
''Construir uma marca e criar um diferencial deve ser o norte para todos os profissionais, pois dessa forma ele se destaca no mercado'', avalia o especialista em TI e negócios Marcelo Prauchner Duarte, com quase três décadas de experiência em grandes organizações.
Se ter a marca é tão importante, como fazer para desenvolvê-la? O personal branding, conceito criado pelo norte-americano Tom Peters há pouco mais de 10 anos, visa a evidenciar atributos pessoais e profissionais que diferenciam as pessoas umas das outras. Quando identificados e explorados adequadamente, eles aumentam a visibilidade e contribuem para a conquista do reconhecimento tão almejado.
Trata-se de um método que ajuda a se destacar em um mercado cada vez mais competitivo e exigente. Segundo Marie-Josette, o que a pessoa é ou sabe só adquire importância se suas qualidades forem marcantes a ponto de serem lembradas. ''Não basta só fazer bem feito, é preciso mostrar que fez bem feito''.
Para os jovens, a importância de um trabalho de construção e promoção da marca pessoal é imensa, de acordo com a especialista. ''Ela vai permitir que ele comece sua vida profissional destacando-se num mercado super lotado e tomando os cuidados necessários com sua 'reputação 2.0''', afirma.
Autoconhecimento
Para quem já quiser começar a desenvolver a própria marca pessoal e profissional, Marie-Josette explica que o processo de personal branding engloba três partes principais.
A primeira é o autoconhecimento. ''Descobrir sua missão na terra, seus valores e suas paixões para que possa emergir sua identidade profissional'', explica a especialista.
A partir daí, é importante que os outros reconheçam sua personalidade e eficiência, o que seria a segunda parte do processo. A terceira, como consequência, é a criação de uma reputação, que o acompanhará aonde for.
Marie-Josette chama a atenção para o fato de que as três partes não são passos ou etapas, e por isso devem ser trabalhadas sempre. ''Mesmo porque a marca pessoal de alguém sempre muda, pois ele deve amadurecer, crescer e desenvolver cada vez mais suas qualidades profissionais'', afirma.
Outra dica de Marie-Josette é que o equilíbrio da vida profissional depende da vida como um todo. Portanto, a vida pessoal, envolvendo família e amigos e sua postura como cidadão perante sua comunidade e o mundo devem estar bem resolvidas. ''Se algum desses pilares estiver em desequilíbrio, os outros estarão também'', explica.
Segundo a especialista, quando conseguir descobrir sua missão - ''o que é a parte mais difícil'' - é importante definir vários meios e metas para realizá-la. ''Faça então seu plano de ação, que deve ser coerente com sua identidade profissional'', ensina.
A partir deste ponto, naturalmente seus valores estarão bem definidos e, por meio deles, suas ações serão guiadas e sua inteligência cultural desenvolvida. ''Compreender seus valores permite compreender os valores dos outros'', ressalta.
De acordo com Marie-Josette, ao compreender o outro e aceitar as diferenças, a relação com as outras pessoas flui muito melhor. Como resultado, a comunicação melhora, o que ainda permite fazer-se conhecer melhor e trabalhar sua identidade por meio da percepção, sinceridade e opinião dos outros.
''E como dito anteriormente, conhecer-se melhor faz parte do caminho para desenvolver sua reputação, sua marca'', afirma.
Ela explica que a identidade e a reputação profissional não estão unicamente relacionadas às competências, qualidades humanas e aptidões, mas também à inteligência cultural. ''É graças a ela que a pessoa desenvolverá relações construtivas e criativas com seu meio profissional'', garante.
Em busca de um eixo
Marie-Josette ensina que a marca pessoal eficaz deve ser precisa. ''Não é importante falar sobre tudo o que você é capaz e sabe fazer. Seria um catálogo! O importante é mostrar um só eixo: uma força, um talento ou uma realização pessoal'', diz.
Segundo a especialista, deve-se destacar o que torna a pessoa única, a sua singularidade, para que a comunicação seja eficaz. ''Se você não é diferente, você é igual a todo o mundo e, então, ficará no meio da massa. Você deve mostrar sua diferença em relação aos outros'', ressalta.
No caso das mulheres, ela acredita que o desafio é maior, por causa de algumas características típicas do sexo feminino no trabalho. Por exemplo, a capacidade de fazer 15 coisas ao mesmo tempo e, apesar disso, e ao contrário dos homens, não se preocupar em mostrar trabalho. Com frequência, segundo a especialista, as mulheres esperam que os outros notem seu trabalho, inclusive o chefe.
Marie-Josette aconselha que, no meio de um café ou num momento de descontração, a mulher fale que conseguiu fazer tudo aquilo: ''Só assim o chefe irá perceber que ela realizou suas tarefas com eficiência'', diz.
Por último, ela destaca que a marca pessoal não deve ser confundida com marketing pessoal. ''Só busca a primeira quem deseja ser lembrado. Ela é que define e destaca a pessoa, enquanto que o segundo está relacionado a estratégias usadas para vender a imagem'', esclarece.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitarios em 03/05/2010