"A ideia é não depender do outro, é assumir a responsabilidade por aquilo que é seu. A carreira é uma parte grande da sua vida, por isso é tão importante ser dono dela para ser dono de si mesmo. Pensar sozinho e sustentar suas ideias é parte da realização", defende o especialista em desenvolvimento humano Carlos Cruz.
Com experiência em treinamento e aconselhamento de executivos e equipes empresariais, ele afirma que ser proativo, tomar decisões próprias e investir em si mesmo são caminhos acertados para a satisfação profissional.
Para ele, apostar no próprio potencial é uma estratégia eficiente para ser dono da carreira. E pontua que se destacar no mercado e garantir um futuro promissor não dependem apenas do cumprimento das obrigações diárias no trabalho.
No passado, o objetivo maior de um profissional era fazer uma carreira em uma única empresa. "A própria empresa era responsável por toda distribuição de cargos e guiava o empregado para determinados caminhos que ele poderia seguir", conta.
Hoje, prossegue ele, "com mudanças tão rápidas e um ritmo muito mais acelerado, nem sempre um chefe tem tempo de aconselhar seu empregado. É muito importante perceber por si só suas possibilidades de trabalho dentro da empresa".
Para assumir a responsabilidade pela própria carreira, a pergunta que deve ser feita, de acordo com Cruz, é "como posso agregar valores à empresa, ao negócio, aos clientes e a mim mesmo?".
Quando encontrada a resposta a essa pergunta, o profissional passa a agir na prática, a corresponder às próprias expectativas e, consequentemente, a satisfazer a empresa.
Entretanto, assumir a própria carreira não quer dizer que necessariamente é preciso mudar de empresa. "Li um especialista dizendo 'eu não preciso mudar de empresa, mas posso mudar dentro dela, posso aprender, me desenvolver e contribuir para a empresa'", ele exemplifica.
Para Cruz, um exercício que dá certo para se destacar e criar autonomia é "enxergar a empresa como cliente também, não só como a relação patrão-empregado".
Sucesso como resultado
Para o especialista, o sucesso é um resultado e não deve ser alvo absoluto. Ou seja, focar apenas na obtenção de sucesso pode atrapalhar. "Nem todos os presidentes e diretores um dia pensaram somente em alcançar isso. Mas com certeza eles focaram no próprio desenvolvimento".
Porém, não há regras para se desenvolver, depende do planejamento de cada um. "Você pode investir num MBA, ou correr atrás de uma promoção, ou perseguir oportunidades. Mas escolha aquilo que você realmente quer para si", aconselha.
E, mesmo não sendo fácil, não é para ter medo de opinar, falar, agir e tomar a frente de algum negócio caso sinta que o momento é favorável, ensina. "Saia de uma posição reativa para pró-ativa. Sei que é difícil, mas os desafios nos fazem mais fortes e ensinam a ser responsáveis e decididos".
Outra dica que ele dá é passar por diversas áreas e criar uma visão geral dos assuntos que envolvam seu nicho de mercado para, além de criar analogias e somar informações, se especializar numa área com a qual mais se identifique.
"Mas não é para cair na síndrome do pato, que nada e voa, mas não faz nada direito. Sinta o que você realmente precisa para ser um bom profissional, onde você é bom e corra atrás disso", ele alerta.
"O segredo é pensar na sua carreira não a curto, mas a médio e longo prazo e estar disposto a assumir certos sacrifícios no presente. O que o ?seu eu? do futuro diria para você fazer hoje?", uma pergunta que ele aplica em seus treinamentos.
Para acertar de vez nas suas escolhas, ele ainda aconselha investir no autoconhecimento para descobrir pontos fracos e eliminá-los e desenvolver os pontos positivos.
Alcançar tudo isso exige muitas mudanças, mas Cruz assegura que não há motivos para temê-las. Como prova disso, ele usa uma das frases dos ensinamentos budistas: Aprender é mudar.
"As pessoas que aprendem, mudam naturalmente. Invista na sua capacidade de aprendizado e desenvolvimento, que as mudanças necessárias vêm".
Empreendedor é dono de si
Empreendedor não é necessariamente o dono de um negócio, mas sim, dono de si mesmo, de sua carreira. Segundo Cruz, muitos estudos apontam que apenas uma pequena parcela das pessoas, com determinadas características genéticas, nasce com um perfil empreendedor. Entretanto, ele mesmo acredita que qualquer um pode desenvolver tais características.
"Todos têm potencial para ser empreendedor e aprender a buscar oportunidades, ter visões de longo prazo, fazer a coisa acontecer, estabelecer metas, mas estar aberto a mudanças e assumir a responsabilidade por sucessos e fracassos" - de acordo com o especialista, são essas as características que definem o profissional independente.
Uma carreira bem-sucedida pode, muitas vezes, ter sido facilitada pela sorte. Mas quem disse que esta também não pode ser encontrada? "Alguns falam de sorte, mas acho que quanto mais se trabalha mais sorte se tem, li isso em algum lugar e adotei. A oportunidade está para quem consegue ver".
Frustração zero
De acordo com Carlos Cruz, "há uma tendência da juventude de ter dificuldade de lidar com frustrações". Ele conta que no tempo dos pais e avós, os mais velhos eram os primeiros a se servirem à mesa, os mais novos ficavam por último. "Hoje, é o contrário".
Com a tecnologia e o acesso imediato a tantas mídias interativas e de informação, essa nova geração se acostumou a ter tudo em mãos rapidamente. Ele mesmo, também jovem, diz que "estamos acostumados às coisas fáceis".
O resultado é a insatisfação profissional, "muitos jovens querendo mudar de emprego por causa de um chefe chato ou pensando que a promoção na empresa esta demorando demais, por exemplo", comenta.
"É preciso aprender a enfrentar dificuldades e superá-las. Vale a pena o jovem refletir sobre isso para contribuir com o crescimento de um negócio ou de uma empresa e criar um vínculo positivo e uma relação de confiança com as pessoas", aconselha.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 3/06/2009.