Ganha força no mundo atualmente o conceito de economia criativa. Ainda sem definição precisa, a economia criativa envolve criação, produção e distribuição de produtos culturais, aqueles que usam o conhecimento e a criatividade como principal recurso, abrangendo desde o artesanato, artes cênicas e visuais, à indústria de softwares.
Sua importância é comprovada por dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estima a movimentação financeira mundial de produtos culturais em US$ 1,3 trilhão, ou 7% do PIB mundial.
A expectativa é que nas próximas décadas as indústrias criativas cresçam cerca de 10% ao ano – quatro vezes mais que o restante da indústria, nos seus vários ramos.
Esse potencial, no entanto, está limitado aos países desenvolvidos, pois apenas cinco deles controlam 60% do mercado cultural atualmente. A América Latina e a África, com toda a diversidade que possuem, não somam 4% de movimentação. Para se ter uma idéia, 80% das salas de cinema do mundo pertencem a empresas de Hollywood.
“No Brasil, os setores envolvidos diretamente com a economia criativa têm pouca noção do seu poder. Seguem na mesmice, brigando por poucos espaços e recursos, numa concepção de cultura que ainda é do século 19, com seus museus, salões, saraus e teatros, ocupados por e para uma elite”, comenta Lala Deheinzelin.
Lala, que é conhecida do grande público como atriz, atua como produtora e consultora cultural, coordenadora do Programa de Economia Criativa do Sul-Sul da ONU (Organização das Nações Unidas), é vice-presidente executiva do Instituto Pensarte (SP) e colunista do site Cultura e Mercado (www.culturaemercado.com.br), no qual publica diversos artigos sobre o assunto.
Segundo ela, o que torna a economia criativa particularmente especial do ponto de vista social e econômico é seu caráter de inclusão. Ela surge como uma alternativa para o desenvolvimento e emprego para países em desenvolvimento.
É esperado que, ao promover a inclusão, a economia criativa também forme novos mercados. “Não é mais possível englobar apenas 30, 40% da população mundial. É preciso fazer com que a cultura seja democratizada e todo o restante adquira cidadania de fato”, diz Lala.
Crescimento sustentável
Em um mundo onde a circulação de bens de consumo materiais está provocando danos ao meio ambiente, a indústria de bens culturais pode ser uma solução para empregar e gerar renda – sem destruir o planeta.
“A economia criativa promove desenvolvimento sustentável e humano, e não mero crescimento econômico. Seria então uma economia do intangível: um setor que se dedica a gerar resultados tangíveis, como desenvolvimento, trabalho e recursos, a partir de elementos intangíveis, como conhecimento tradicional, artes e propriedade intelectual”, explica.
No Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Cultura, o setor cultural ocupa 3,7 milhões de pessoas, ou 4,5% do total de trabalhadores. Sua receita líquida em 2003 foi de R$ 156 bilhões, o que representa 7,9% do total da receita de todos os setores.
Mas a economia criativa ainda precisa ser impulsionada. Para tanto, é necessário conscientizar financiadores e gestores sobre a urgência de ações conjuntas entre poder público, iniciativa privada, terceiro setor e universidades, bem como dos setores da cultura, economia, turismo e relações exteriores, defende Lala.
É preciso ainda fomentar, segundo ela, o desenvolvimento de novos negócios, que impliquem novos usos das linguagens artísticas e novos formatos de difusão e distribuição do produto cultural, dirigido a novos públicos, em novos espaços.
“Um exemplo simples está na parceria entre os que produzem matéria-prima artesanal, como as rendeiras, e os que podem utilizá-la de maneira mais criativa, agregando valor, e até exportando, como os estilistas”, pontua Deheinzelin.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em janeiro de 2007.