Ir ao cinema para quase todas as pessoas significa entretenimento, diversão, programa de fim de semana. Quase, porque existe uma parcela da população que tem o cinema como um vício, um hábito importantíssimo e fundamental em suas vidas: são os cinéfilos.
“Cinéfilo é a pessoa que ama a linguagem do cinema”, afirma o jornalista e cineasta Evaldo Mocarzel, que em outubro deu um curso sobre a linguagem do documentário no Espaço Unibanco, em São Paulo.
Mas, para ser cinéfilo, não basta gostar de cinema. É necessário estudar, e muito, pesquisar, assistir ao menos um filme por dia, entender a história e os momentos cruciais desses 111 anos da chamada sétima arte:
“O cinéfilo tem que conhecer toda a história do cinema, fazer essa viagem, que começou em 1895, e passar por todas as escolas, os principais cineastas, os grandes filmes”, define Mocarzel.
Entre os diretores que um cinéfilo tem de conhecer, segundo ele, estão os precursores de tudo, os irmãos Lumière, Fellini, Bergman, Godard, além dos diretores das escolas soviética, alemã, fundamentalista, o movimento surrealista, o cinema novo, o cinema contemporâneo brasileiro, enfim, todo o movimento cinematográfico desenvolvido ao longo de pouco mais de um século de história.
Os novos cinéfilos
Em pleno século 21, os aficionados por cinema continuam a surgir. São jovens que se interessam pela arte cinematográfica e saem em busca dessa descoberta.
Os cinéfilos de hoje continuam estudando e conhecendo os mesmos autores dos jovens da década de 1960, os clássicos, a história e os grandes diretores. Mas também é fato que os gostos mudaram.
Para o cineasta Evaldo Mocarzel, o que acontece hoje é uma inversão: “A ficção está tentando mimetizar o documental, e os documentários tentam tratar o real de forma ficcional”.
Os jovens cinéfilos encontram coisas novas, mas precisam conhecer o passado para entender o que influenciou a criação e formação do que está aqui, agora.
Também é certo que o cinema tem atraído novos fãs devido ao sucesso e reconhecimento do cinema brasileiro contemporâneo: “O cinema brasileiro está bombando, com certeza isso faz com que aumente o interesse por esta arte”, completa Mocarzel.
Vida na frente da tela
O cinema é tão importante para um cinéfilo que ele deixa de trabalhar, ir à praia ou fazer qualquer outra atividade para estar ali, em contato com o filme.
O cineasta (e cinéfilo) Evaldo Mocarzel define a vida de um cinéfilo como uma diferente forma de viver: “Deixa-se de viver a própria vida para viver a representação da vida na tela grande”.
Além disso, um cinéfilo tem que garantir boa parte de sua renda mensal para as idas ao cinema, o aluguel de DVD, os livros e revistas especializados e ainda os eventos especiais, como a 30ª Mostra Internacional de Cinema, que ocorreu em São Paulo de 20 de outubro a dois de novembro.
Os mandamentos de um cinéfilo
No site especializado em cinema CinePop (www.cinepop.com.br) , foi publicado um texto divertido de Paulo Rogério Carvalho Costa sobre os dez mandamentos que um cinéfilo deve seguir. Vale a pena conferir:
1- Amarás ver filmes sobre todas as coisas
2- Não apertarás o pause em vão
3- Guardarás seus sábados e domingos para sessões extras
4- Honrarás a sétima arte
5- Jamais contarás o final dos filmes
6- Não perderás nenhum lançamento
7- Não furtarás pipocas alheias
8- Não pularás os trailers
9- Não desejarás os DVDs do próximo
10- Não comprarás nem locarás DVDs piratas
Ser cinéfilo é mesmo coisa séria e requer muito tempo, estudo e dinheiro. Boa sessão a todos!
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em novembro de 2006.