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Em debate, o conto.
 
Dois contistas e especialistas em literatura falam sobre este gênero literário que está passando por grandes transformações no ambiente virtual.
 
05 de outubro de 2010
por Maria Clara Pitol
 

A literatura é um mundo mágico, onde tudo é possível. Nele, qualquer pessoa, objeto, bicho ou lugar ganha novas formas e cores. Entre os gêneros literários, o conto se destaca por sua brevidade que, no entanto, não é uma limitação. Ou seja, embora conciso, narra uma história completa e muitas vezes envolvente.

Consagrado por grandes nomes da literatura mundial, o conto continua presente no universo literário atual, inclusive ganhando novas formas no ambiente virtual.

Dois contistas e especialistas em literatura falaram com exclusividade sobre as características desse gênero literário, sua atualidade e as modificações que vem sofrendo nos últimos anos em função das novas mídias.
 
Um deles, João Anzanello Carrascoza, é autor dos livros de contos ''Hotel Solidão'', ''O vaso azul'', ''Duas tardes'', ''Meu amigo João'' e ''Dias raros'' e também escreve novelas e romances para o público infanto-juvenil. Já foi premiado diversas vezes, uma delas com o Prêmio Guimarães Rosa da Radio France Internationale. Atua como professor da Academia Internacional de Cinema (AIC) e da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
 
O segundo, Carlos Felipe Moisés, é um contista estreante com o livro ''Histórias mutiladas''. Poeta consagrado por obras como ''Noite nula'', ''Lição de casa'' e ''Subsolo'', também é crítico literário e professor de literatura em universidades brasileiras e norte-americanas.

Como você definiria as principais características de um conto? Quais são aquelas que definem um texto como pertencente a este gênero?

Carrascoza: A concisão, a intensidade, o ritmo. Você sabe quando está no universo do conto, assim como sabe quando está no mar, num rio ou numa cachoeira.

Moisés: Relato breve de um episódio decisivo, marcante, na trajetória de vida de um ou mais personagens (mas não muitos). Pouca descrição, só o estritamente necessário para esboçar o perfil do protagonista e o cenário ou a atmosfera. O conto tradicional entra direto na ação, não perde tempo com ''antecedentes''; a narração costuma ser acelerada, falas e diálogos econômicos, incisivos. No geral o relato conduz a um final surpreendente.

Qual o diferencial do conto frente a outros gêneros literários, como a crônica (às vezes até confundida com o conto), o poema, entre outros?

Carrascoza: O conto é um riacho, portanto tem um curso, caminha, obedece ao movimento interno da narrativa, embora possa ser lírico. Não se interessa pelo que ocorre às suas margens – os fatos cotidianos –, mas sim pelo mundo de suas profundezas.

Moisés: Esquematicamente: a poesia, ou a poesia lírica, tradicional, é a expressão do eu, voz isolada, confessional, focada na auto-observação. A crônica é relato de fatos ocorridos fora do eu, observação da realidade social, sempre filtrada pelo olhar do cronista, e não tem, propriamente falando, ''personagens'': seu foco é o ponto de vista do cronista (escritor e narrador se confundem). O conto (o tradicional) tem o seu foco na existência objetiva do personagem, fora do escritor (que não se confunde com o narrador). A partir do século 20, os limites entre os três gêneros tendem a se diluir: contos com pendor lírico; poesia com esboços de narração ou sugestão de personagens; crônicas em que a observação da realidade se confunde com a ficção etc.

Ao longo do tempo, o conto mudou?

Carrascoza: O conto vem plasmando outros formatos literários, inclusive os formatos midiáticos, mas no fundo permanece o mesmo. Mudam as paisagens ao redor, mas as suas águas continuam iguais.
 
Moisés: O conto é a forma ou gênero narrativo mais antigo, remonta à Antiguidade (um só episódio marcante, unidade dramática). A novela vem depois, só se firma na Idade Média (sucessão de episódios em estrutura aberta, podendo estender-se indefinidamente). O romance é o mais recente, só se configura no século 19, com a hegemonia da sociedade burguesa (pluralidade de episódios, em estrutura fechada, tipo começo-meio-fim). Na origem, o conto se confunde com o relato mítico e, em seguida, com a  ''crônica'' primitiva, que até o século 19 era sinônimo de ''historiografia''. Aos poucos, o conto foi-se fixando na sua vocação maior, que é a ficção, mas nunca perdeu seus vínculos com a História, abrigando todos os temas possíveis e toda espécie de personagem, sejam ''pessoas'' verossímeis, sejam figuras imaginárias, funcionando sempre como símbolos de atitudes e modos de ser, comuns a todas as pessoas.

O conto é o gênero que tem passado por mais mudanças, sempre no rumo da concisão e do refinamento dos recursos formais e estilísticos. No século 19, e nos primeiros anos do século 20, o romance figurou como gênero narrativo ''maior'': o conto era visto como um ''exercício'' em que o escritor se preparava para voos mais altos. A partir do início do século 20 esse preconceito foi superado e o conto moderno passou a ser encarado como um gênero narrativo tão difícil, tão engenhoso e tão digno quanto o romance.

Quais os maiores contistas brasileiros de todos os tempos?

Carrascoza: Machado de Assis, Guimarães Rosa e Clarice Lispector.

Moisés: Acima de todos, até hoje, Machado de Assis, o grande mestre. No século 20, a lista é imensa: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Dalton Trevisan, Osman Lins, Lygia Fagundes Teles, Murilo Rubião, Rubem Fonseca...

O conto é um gênero bastante difundido e presente não somente no meio literário, como acadêmico e popular (jornais, revistas, entre outras publicações). Como é a aceitação deste gênero entre os jovens?

Carrascoza: O conto está presente, sim, nos meios de comunicação, mas não é o gênero preferido das editoras, que investem mais no romance. É assim no Brasil e lá fora. A aceitação deste gênero entre os jovens talvez siga a tendência dos leitores adultos, que preferem mares (mesmo poluídos) a riachos (às vezes cristalinos).
 
Moisés: Graças à sua brevidade, o conto circula com muito mais facilidade do que o romance: qualquer órgão de imprensa pode e costuma ter o seu espaço dedicado ao conto, que pode ser lido rapidamente, por todo e qualquer leitor, incluindo os jovens. A pressa e a falta de tempo característicos da vida moderna, nas grandes cidades, são favoráveis à disseminação do conto. Isto é especialmente verdadeiro em relação ao jovem leitor, que não costuma ter disposição para se concentrar, ao longo de dias, semanas ou meses, num único livro, um romanção às vezes de 300, 400 páginas.

Na era digital, a internet - com sites, blogs, redes de relacionamentos etc - estimula o surgimento de novos contistas? E a publicação e divulgação de escritores já consagrados do gênero?

Carrascoza: Um contista autêntico escreve por um impulso interior. O seu embate com a realidade pode acelerar ou retardar seu processo de formação e amadurecimento como autor de prosa curta. Os meios digitais, tanto quanto os tradicionais, podem estimular seu surgimento, embora, a meu ver, estimulem muito mais o desejo exibicionista. Um escritor precisa de silêncio para se fazer antes de lançar seu grito pelo mundo, como nos versos de Walt Whitman.

Moisés: A internet, ao mesmo tempo em que leva adiante a facilidade de circulação de gêneros breves como o conto, colabora também para o estímulo à criação. Publicar um conto numa revista ou jornal de prestígio não é fácil, a concorrência é enorme, o principiante precisa passar por uma série de barreiras. Já a internet é amplamente democrática: nada impede que qualquer pessoa publique em algum site, blog, o seu conto, o seu poema.

Para os escritores já consagrados, a situação é um pouco diferente: a internet tende a ser utilizada mais para divulgar a obra já existente, no papel, e para firmar e ampliar a sua reputação, do que propriamente para publicar. Mas tudo isso é muito recente, entre nós. Não dá pra saber no que vai dar.

Quais as dicas para os jovens que pretendem ser escritores?

Carrascoza: Uma única dica, um velho ditado latino: apressa-te devagar.

Moisés: Leiam, leiam, leiam, antes de pensar em escrever. Depois escrevam, escrevam, escrevam, antes de pensar em publicar, no papel ou na internet. Sejam mais exigentes e rigorosos consigo mesmos do que com os outros. Jamais escrevam pensando na fama, na glória, no prestígio. Se tiver de acontecer, acontecerá, naturalmente. Não escrevam para se autoafirmar, mas para se descobrir, para registrar a sua intransferível verdade interior.

Matéria produzida para o site Bradesco Universitarios em 07/09/2010

 
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