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O legado de Itamar Assumpção
 
Cantor e compositor da chamada Vanguarda Paulista, falecido em 2003, merece ser conhecido pelas novas gerações. Ele deixou letras inéditas, que estão sendo musicadas por amigos, e um livro recém-lançado traz sua biografia e cancioneiro.
 
26 de março de 2007
por Marcelo Jucá
 

Para quem está cansado de ouvir as mesmas músicas, todo dia, talvez se interesse em conhecer o músico Itamar Assumpção. E para quem não tem certeza se o conhece ou não, uma dica: a música "Vi, não vivi", interpretada por Zélia Duncan, e sucesso recente, é uma regravação da canção de Itamar. Inclusive, a própria Zélia uma vez revelou que um dia ainda gravaria um CD apenas com músicas de Itamar.

Enquanto esperamos, a melhor maneira de conhecer todo o trabalho desse artista é dando uma olhada nos dois volumes do livro "PretoBrás: Por Que Eu Não Pensei Nisso Antes?", uma mistura de cancioneiro e biografia lançada pela Ediouro (valor aproximado de R$ 90,00) no final de 2006 (com patrocínio, claro, da Petrobras).

Clara Bastos, ex-baixista do grupo "Orquídeas do Brasil" (banda que acompanhou Itamar), e uma das organizadoras da obra, explica que no livro são apresentadas "letras e partituras de músicas, além de entrevistas e depoimentos de amigos e parceiros de Itamar". O livro foi muito bem recebido por público e crítica, tanto que venceu, em 2006, o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na categoria biografia.

Uma outra forma de resgatar (ou conhecer) a obra de Itamar, falecido em 2003 (vítima de câncer), é aguardar o lançamento de um CD com músicas inéditas do compositor.

"Itamar saiu distribuindo dezenas de letras a serem musicadas pelos seus amigos", recorda Clara que, ao lado de Sérgio Molina, responsável por diversas dessas poesias, busca finalizar o projeto "Sem pensar Itamar nem pensar", em fase de pré-produção, que ainda está na busca de patrocinadores.

Vida e obra

Paulista da cidade de Tietê, no estado de São Paulo, Itamar entrou de vez no mundo artístico no final dos anos 1970. A expressão "mundo artístico", nesse caso, tem que ser levada a sério, já que os shows de Itamar eram literalmente grandes espetáculos de arte, que misturavam dança, teatro, literatura, além de muita música. "A presença de Itamar no palco era algo muito forte, muito envolvente", relembra Clara.

Toda essa peculiaridade de Itamar era retratada em suas canções que misturavam ritmos como samba, reggae, rap e funk. Suas letras continham versos satíricos, criticando o cotidiano, comentando as cidades, ao mesmo tempo que, com um sentimentalismo inesperado, cantavam a beleza das flores. Recusava-se a falar e ouvir "abobrinhas", como ele dizia e deixou explícito na música "Cansei de ouvir abobrinhas". Mas não esquecia de colocar sua dose de bom-humor.

Junto a Arrigo Barnabé e Egberto Gismonti, entre outros músicos, teve (e ainda tem) importante papel para a contínua construção do movimento musical intitulado Vanguarda Paulista, cujo objetivo principal é ser o menos convencional possível (vide o percussionista e parceiro de Itamar, Naná Vasconcelos, que virou seu berimbau de cabeça pra baixo a fim de obter uma nova sonoridade do instrumento).

Além de Zélia e Naná, artistas como Cássia Eller e Tom Zé já regravaram músicas de Itamar. Arrigo Barnabé fez um tributo em "Missa In Memoriam Itamar Assumpção", homenageando o amigo.

Por enquanto, o artista ainda não ganhou um site na internet, mas amigos e parentes já estão providenciando isso. Até lá, fique ligado e vá atrás do livro, pois em muitas livrarias ele já está esgotado.

Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em fevereiro de 2007.

 
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