Se muita gente vai ao cinema estimulada pelo que leu sobre um filme em alguma crítica de jornal, há os que saem de uma sessão com uma opinião tão contrária às expostas nas colunas dos grandes jornais que se sentem imbuídos a escrever suas próprias impressões. Há pouco mais de cinco anos, esta vontade de expressar opiniões sobre o último filme visto, o último show que foi ou livro que leu raramente era posta no papel e se concretizava mesmo nas rodas de bate-papo com os amigos.
A partir de 1999, porém, a chegada de ferramentas como Blogger, Weblogger, etc, popularizou a criação de diários virtuais e criou um espaço onde qualquer pessoa pode ser autor de uma notícia e qualquer expectador pode também escrever sua crítica.
Mais do que publicar idéias, os blogs permitiram que opiniões fossem compartilhadas também por seus leitores. Isto porque cada texto pode ser comentado, e todo tema levantado pode iniciar um novo debate entre autor e público.
No Brasil, a grande maioria dos blogs surge sem a pretensão de ser uma referência em crítica cultural. No entanto, basta digitar o nome de uma música ou de um filme em qualquer site de busca na internet para encontrar entre os resultados diversas citações vindas de blogs.
O jornalista e cinéfilo Chico Fireman, por exemplo, mantinha um blog como diário virtual e, depois de conhecer alguns que eram voltados exclusivamente para assuntos ligados a produções cinematográficas, percebeu que poderia criar um outro onde pudesse falar apenas sobre esta sua paixão. Assim, nasceu em 2003 o “Filmes do Chico”, que é atualizado quase diariamente com comentários sobre filmes, informações sobre estréias ou fichas técnicas.
“Antes achava que seria muito pedantismo fazer um blog só sobre cinema, mas outros blogs que eu acompanhava me convenceram que não. Sempre gostei de ler, guardar informações e opiniões sobre filmes. O blog foi o espaço perfeito. Mas não gosto de chamar meus textos de críticas porque não há rigor neles. São textos opinativos e só”, comenta o jornalista.
Jornais aderem à ferramenta
Mas se para os leitores os blogs são mais uma opção de consulta e uma oportunidade de ler o que um igual e não necessariamente um especialista tem a dizer sobre um determinado assunto, para jornalistas como Fireman, os blogs se tornaram um espaço aberto para dizer o que não cabe, por questões de espaço ou de estilo, na imprensa tradicional.
“No blog os textos são menos formais, não precisam atender a certos padrões. Às vezes eu faço textos grandes que nunca falam sobre a história do filme em questão. Ou seja, para o leitor só faz sentido ler minha opinião se ele viu o filme. Já numa crítica para o jornal, é meio que obrigatório situar o leitor”, explica Fireman.
E ao invés de encarar os blogs como adversários, alguns jornais fizeram exatamente o contrário, aliaram-se a esta ferramenta. O Globo Online, por exemplo, criou uma editoria de blogs e convidou todos os seus colunistas a fazerem um blog.
Nem todos aceitaram, mas os que aderiram à ferramenta ganharam a possibilidade de estar mais perto de seus leitores, e estes de participarem mais ativamente e até pautarem as colunas do jornal. Além disso, os blogs do jornal passaram a servir como uma espécie de apêndice do que não cabe no formato jornalístico do Globo Online.
As coberturas dos recentes shows dos Rolling Stones e do U2, no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, estavam presentes nas matérias do site do jornal, mas apenas nos blogs era possível conhecer mais sobre os bastidores dos eventos, curiosidades sobre as bandas e impressões dos jornalistas sobre cada momento dos shows.
Da mesma forma, resenhas de livros, informações sobre lançamentos de obras ou inaugurações de exposições preenchem tantos posts que não caberiam nas poucas páginas dos cadernos de cultura de grande parte dos jornais.
Um blog novo por segundo
Atualmente, surge um novo blog por segundo no mundo, de acordo com o site Technorati, que é referência mundial em conteúdo de blogs. Além disso, são registrados 1,2 milhão de posts novos por dia, cerca de 50 milhões por hora.
Segundo o mesmo site, os blogs têm influenciado especialmente o mercado de mídias segmentadas, uma vez que grande parte dos blogs considerados bem-sucedidos, por durarem anos ou possuírem um número grande e constante de acessos, é focada em nichos, como música e fotografia, por exemplo.
Se antes eles eram considerados meros diários virtuais, nos últimos anos blogs têm ganhado força como fonte difusora de informação. Através deles, testemunhas de fatos como os atentados do World Trade Center, do metrô de Londres, ou de qualquer outra notícia digna de capa de jornal deixam de ser apenas personagens e se tornam autores de suas próprias histórias.
Mas enquanto em alguns países a penetração dos blogs alcança até o meio acadêmico, no Brasil ela ainda engatinha. Por aqui, é ainda entre os adolescentes que a criação de blogs está mais difundida. No entanto, aos poucos a liberdade de expressão que a tecnologia oferece tem conquistado todas as faixas etárias e começa a ser encarada com seriedade.
E se depender do aumento de usuários de internet no país, este amadurecimento não tardará. Isto porque, segundo o Ibope/NetRating, que mede o acesso à rede internacional de computadores, de 2004 para 2005 aumentou em 12,4% o número de usuários residenciais ativos no Brasil e em 34% o tempo de conexão de cada um deles.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 19/04/2006.