Todo mundo já dançou, ou “mexeu os esqueletos”, como se dizia, alguma vez na vida. “Desde que nos conhecemos por gente, o Homem dança. É uma necessidade de se expressar, que muitas vezes é satisfeita pela dança”, explica a professora e bailarina Marinês Callori, que dá aulas em um novo estúdio de São Paulo, a Sala Crisantempo.
Então tudo é válido: rodinhas de rock, baladas com música eletrônica, pagode, até “dança da chuva”. No Brasil, terra do carnaval, do samba, do frevo, do axé, dança-se, e muito.
Mas há também o trabalho profissional de dança, levado muito a sério por aqui. O país conta com algumas companhias e grupos estáveis, que lutam contra todas as dificuldades e falta de verbas, como o grupo Corpo, de Belo Horizonte, a companhia de Deborah Colker, no Rio, o Cisne Negro, o Ballet Stagium e o Balé da Cidade de São Paulo, em São Paulo, o Quasar Cia de Dança, de Goiânia, só para citar alguns.
Também há cursos universitários de dança, inclusive com pós-graduação, como o da Universidade de Campinas (Unicamp), o da Universidade de São Paulo (USP) e o da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a pioneira na área.
Ao mesmo tempo, quantos brasileiros já foram a um espetáculo de dança? “Quem assiste aos espetáculos são bailarinos”, diz Marinês.
O público ainda é muito restrito comparado às outras manifestações de arte. A audiência ainda é pouca. Para Neide Neves, também bailarina e professora da Sala Crisantempo, há uma explicação, que é cultural:
“As pessoas ainda vão aos espetáculos esperando ver passos todos certinhos. Isso tem, mas a dança contemporânea é mais do que isso”, diz.
O Crisantempo é um exemplo disso. Trata-se de um espaço voltado para a educação e a pesquisa de dança. Oferece cursos relacionados à consciência do movimento e reúne profissionais cujo trabalho é baseado nas idéias e práticas do mineiro Klauss Vianna (1928-92).
Mas quem foi Klauss Vianna?
No Brasil, o bailarino Klauss Vianna, com formação clássica, foi um dos que deram novos rumos à dança brasileira. Ele também criou o seu próprio método de consciência corporal.
Juntando toda sua bagagem com estudos em cinesiologia (ciência que estuda os movimentos humanos), Klauss imprimiu novos conceitos na dança, ensinando a bailarinos e atores de teatro a como usarem cada centímetro do corpo em função da expressão.
Tanto que é famosa a história de que ele proibiu seus alunos de usarem sapatilhas, para que dessa maneira fosse possível estudar melhor o que ele acreditava ser a “estrutura do corpo”.
Descalços, e bem fortalecidos, os pés davam a sustentabilidade necessária para que as outras partes do corpo estivessem seguras o suficiente para realizar os mais diversos movimentos.
Neide Neves, que é considerada uma das maiores especialistas no método Klauss Vianna, relembra que Klauss “sempre buscou trabalhar com seus alunos a expressão do corpo. Ele tentava fazê-los se expressarem através dele”.
Em certa aula, Klauss distribuiu jornais para os alunos. E não era para dançar em cima ou procurar emprego. Era para que eles lessem as notícias e se informassem. “O Klauss promovia essa aproximação do mundo com a dança. Para que assim, eles soubessem o que expressar”, completam, uma a outra, Marinês e Neide.
Novos olhares
Todo mundo pode dançar, basta querer aprender. E como já temos uma base, pois andamos, corremos, pulamos – ou seja – nos expressamos com o corpo, pode ser mais fácil do que parece, além de ser ótimo para a concentração.
A dança também pode ser uma forma de superação social. Um exemplo é o Corpo de Dança da Maré, grupo criado pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo junto com moradores do Complexo da Maré, uma das maiores favelas da cidade do Rio de Janeiro. Hoje ele se apresenta por todo o país.
Quem estiver interessado em se expressar melhor, ou saber o que os outros andam sentindo, fique de olho no próprio site da Crisantempo, ou em eventos nos Sescs, em teatros e até em um espaço criado só para a dança na cidade de São Paulo, o Projeto Teatro de DançaDiretor (na Av. Ipiranga, 344 – 1º andar), que tem o apoio da Secretaria de Estado da Cultura.
Sempre há um espetáculo para assistir, e sempre terá espaço para mais um.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 10 de abril de 2007.