Ler um livro nunca foi uma experiência tão tecnológica. Este ano, além dos tradicionais volumes de papel, os livros digitais – também conhecidos como e-readers – marcaram presença em dois dos maiores eventos do mercado livreiro nacional, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Além disso, também este ano, pela primeira vez na história, os livros vendidos para e-readers (ou e-books) ultrapassaram em vendas os títulos em papel na Amazon.com, um dos principais sites de comercialização de livros do mundo.
Mike Shatzkin, fundador da Idea Logical Company, uma das principais consultorias do mundo na área editorial, foi convidado para participar do Fórum Internacional do Livro Digital, que precedeu a 21.a Bienal do Livro. Ele falou sobre o futuro do livro, as expectativas e como os autores e editoras precisam se adaptar a essa tendência. Segundo o consultor, daqui a cinco anos os livros digitais representarão entre 60% e 70% do mercado nos Estados Unidos.
O analista ainda não se arrisca a dizer como será esse fenômeno no Brasil, mas isso deve demorar um pouco mais para acontecer. Existem algumas barreiras e a principal delas é o alto custo para os leitores. Shatzkin disse não ler nada em papel há três anos e meio e faz previsões sobre o mercado editorial por causa dos livros eletrônicos:
"Num mundo de livros de papel, é preciso ter um conhecimento específico desse formato, e também capital para imprimir e distribuir", argumenta.
O consultor disse também que não se vende mais um formato, o que se vende são arquivos. "(...) Podem ser livros, músicas, programas. Não há mais necessidade de um conhecimento específico do formato. Elas (editoras) terão que focar seus esforços no conteúdo e se especializar em alguma área."
Encontro de dois mundos
De certo modo o que os analistas dizem parece fazer sentido. A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo desde 2009 teve a iniciativa de disponibilizar gratuitamente mais de 200 títulos em formato digital. Na Bienal, a editora apresentou ao público as obras em cerca de 50 aparelhos, entre Kindles, iPads, e-Readers da Sony. Para os leitores à moda antiga, os livros no formato digital também podem ser adquiridos na versão impressa.
Segundo a editora, já foram realizados mais de 55 mil downloads. Entre os títulos estão as biografias de Fernanda Montenegro, Mazzaroppi e Raul Cortez; os roteiros dos filmes "Zuzu Angel", "Cidade dos Homens", entre outros.
"Os livros em formato digital são todos gratuitos, apenas 10 são vendidos, por meio do site da Amazon", afirma Luiz Álvaro Aguiar, supervisor de marketing da editora.
Negócio promissor
A novidade do momento está por conta do anúncio da parceria da Submarino, site de vendas, com a Gato Sabido, primeira livraria digital do Brasil. Até antes da parceria, a Submarino não vendia conteúdo para e-readers e precisava entrar nesse ramo e a Gato Sabido precisava de mais tráfego no site.
Segundo Luciana Legey, sócia da Gato Sabido, em apenas oito meses a empresa já possui mais de 1500 títulos em português e mais de 100 mil em inglês. De certo modo é um número ainda modesto de livros em português, o que se deve ao fato de essa tecnologia ainda ser recente no país. Porém tudo indica que esse quadro se reverterá.
"O digital não precisa de estoque, distribuição, impressão e os custos que um livro impresso tem. (...) Ele vai conseguir conviver com o livro impresso, mas a tendência é que o livro digital domine mais para frente", prevê a empresária.
Outros fatores tornam o livro digital ainda mais atraente: além de ser de 30 a 50% mais barato do que o livro impresso, uma pessoa pode ter até 5 mil títulos em mãos portando apenas o leitor digital.
Os tradicionais amantes dos livros com peso e cheiro característicos não precisam temer o fim do impresso, quase todos os livros digitais têm versões impressas. Mas precisam aceitar essa realidade. Apesar de a maioria das editoras estarem ainda se preparando para essa revolução digital, a Gato Sabido fechou contratos importantes com grandes editoras como a Zahar, Melhoramento, Companhia das Letras, entre outras, o que indica que novos títulos para os e-readers vêm por aí.
Varejistas na disputa
Grandes livrarias, como a Saraiva, também aproveitam a ocasião para divulgar seus livros digitais. No seu site, a livraria disponibiliza, por preços menores que os dos livros impressos, títulos como "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carrol, e "Caim", de José Saramago.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitarios em 20/08/2010