As peças teatrais são capazes de conquistar as novas gerações se a proposta das apresentações tiver conteúdo atraente e corresponder às expectativas e estilo de vida do jovem contemporâneo. É o que afirma Ana Salles, professora responsável pela política cultural da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e superintendente do TUCA (teatro da universidade).
"Hoje, há uma segmentação muito grande. O jovem vai a determinados lugares, e há grupos bem destacados. Reconheço que não há um interesse generalizado pelo teatro, mas quando a proposta é aceita, os jovens aderem pra valer", diz.
Ana garante que as últimas temporadas de peças teatrais voltadas para esse público no TUCA foram "sucesso absoluto" e que a plateia lotou de jovens. Isso porque, de acordo com a professora, eram trabalhos que começaram na internet e tratavam dos assuntos atuais, sejam triviais ou mais sérios, com bastante humor.
"Veja o caso do 'Jogando no Quintal', dos 'Barbichas' ou do Marco Luque. O público é 90% jovem. E, nestes casos, é preciso ver que o fenômeno começou na internet. Ou seja, com linguagem jovem, proposta interativa, e comunicado por um meio acessado por eles".
No Tuca, o grupo teatral "Jogando no Quintal" apresentou, entre outros espetáculos, "Caleidoscópio - Um espetáculo de improvisação". No caso dos "Barbichas", eles ficaram em cartaz com "Improvável", ao lado dos humoristas Marianna Armellini e Marco Gonçalves. E o Marco Luque, que também é um dos apresentadores do programa "CQC ? Custe o que custar", da Rede Bandeirantes, esteve por lá com a stand-up Comedy "Tamo Junto".
Segundo Ana, os jovens respondem bem ao apelo do humor. "A vida está muito difícil e falta perspectiva de futuro. Problematizar não é o que estão procurando. E o teatro - ou qualquer manifestação e apresentação que aconteça nos palcos "procura atender a esta demanda".
A professora quer acabar com o mito de que, por uma questão de costume ou saudosismo, é a terceira idade quem sustenta o teatro. Mesmo porque, segundo ela, "a maior parte do sustento vem das verbas de patrocínio e não da bilheteria".
São Paulo ganhou mais teatros
Para ela, cada público tem seu espaço e suas preferências, por isso "as pessoas mais velhas gostam de determinadas peças, autores e atores, e os jovens de outros. Às vezes "muito raramente" todos gostam de um único trabalho, mas o consenso é raro".
Além disso, ela acredita que se os teatros tinham suas portas abertas de terça a domingo nos anos 1970 e 1980 e hoje as temporadas diminuíram para sexta, sábado e domingo, não é porque o interesse também diminuiu e, sim, por uma simples questão matemática.
"Só em São Paulo não havia nem 20 teatros. Hoje, temos perto de 160. Portanto, pulverizamos e dividimos o público entre muitas possibilidades", comenta.
Segundo Ana, com a intenção de incentivar o gosto pelo teatro, alguns programas de fomento têm possibilitado o acesso de comunidades mais carentes - do ponto de vista financeiro ou geográfico ? aos palcos. "Quase sempre os espaços de cultura não estão nas periferias", diz.
Para ela, o estímulo aos jovens com condições de pagar por um ingresso de teatro para que frequentem os espetáculos deve acontecer dentro de um programa global, que abarque também outras manifestações da arte, como literatura, cinema e música.
Mas quanto custa...
Considerado uma das atrações culturais mais caras pela população brasileira, "o teatro nunca foi de grande público, com acesso sempre restrito às classes A e B", afirma Ana Salles.
Porém, de acordo com a professora, trata-se de esclarecer o público sobre o porquê desse preço mais caro (a partir de R$ 20,00, R$ 30,00). Lembrar, por exemplo, os custos da produção de uma peça, dos ensaios e concepção à montagem final, e das várias apresentações ? que levam em conta a presença física de atores e toda uma equipe por detrás das cortinas.
"Considere que a preparação de uma peça leva meses. Há o texto - que tem um autor, que cobra direitos autorais. Durante os ensaios, atores, diretor, preparador corporal e vocal já começam a receber (ou ao menos deveriam)", explica.
"Depois, vem produção, cenografia, iluminação, espaço, divulgação... Quando a peça está em cartaz, cada sessão implica a presença e trabalho de muita gente".
Segundo Ana, "sempre que há campanhas de gratuidade ou de preços populares, o público cresce", o que pode indicar interesse, mas não a devida valorização dessa arte.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em 04/09/2009.