Monteiro Lobato, tão conhecido por seus belos e irreverentes trabalhos, especialmente para o público infanto-juvenil, pode agora ser estudado mais de perto, para além dos seus livros. Pela internet é possível ter acesso às cartas que ele escreveu ainda em Taubaté, teses, monografias e dissertações sobre o autor, fotografias e retratos de família, entre outros documentos.
A novidade faz parte do Projeto Temático Monteiro Lobato (1882-1948) e Outros Modernismos Brasileiros.
Foi criado e desenvolvido por uma equipe de pesquisadores, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Universidade de Campinas (Unicamp).
“O Projeto Temático é, na verdade, um desdobramento do Memória da Leitura, projeto desenvolvido anteriormente sobre a história da leitura e do livro no Brasil”, explica a jornalista e estudiosa de Monteiro Lobato, Cilza Carla Bignotto.
De acordo com ela, os objetivos do projeto são “primeiro montar uma vitrine do material que já existe no Fundo Monteiro Lobato, e, segundo, aglutinar pesquisadores de Lobato espalhados por todo Brasil”.
O acervo digital do autor encontra-se no site www.unicamp.br/iel/monteirolobato, onde todo o material do Fundo Monteiro Lobato ficará disponível. Os documentos disponibilizados no portal estão sob custódia do Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae), do Instituto de estudos da Linguagem da Unicamp.
Na página do Projeto Temático também há links, por meio dos quais se pode pesquisar e acessar nomes e localizações de monografias, dissertações e teses que ainda não foram digitalizadas, além de artigos, textos jornalísticos, bibliotecas e até outros sites sobre o escritor.
“Há muito material inédito que está sendo utilizado para estudar aquilo que chamamos de zonas de sombra, ou seja, tentar entender alguns aspectos da vida de Lobato que ainda não foram tão bem explicados e compreendidos”, destaca a pesquisadora.
Fundo Monteiro Lobato
O início de tudo foi em 1999, quando a jornalista Cilza Carla Bignotto doou o material acumulado durante sua pesquisa de mestrado sobre Monteiro Lobato para a Unicamp:
“Eu morava em Santos e estava fazendo meu mestrado. Certo dia, encontrei um vendedor de livros que tinha adquirido peças raras de Lobato e estava vendendo por um preço bom. Como tinha bolsa da Fapesp para fazer a pesquisa e desenvolver o trabalho, pude, então, comprar o material e doá-lo à Unicamp”, conta ela.
Foram doados recortes de jornais, revistas e a coleção com aproximadamente 500 obras raras do autor.
Em 2001, o Fundo tornou-se ainda mais completo e sofisticado, após a visita dos familiares de Lobato à Unicamp. Os herdeiros ficaram entusiasmados com o grupo de estudos da universidade e resolveram colaborar também.
“Fizemos uma exposição com o material que tínhamos e convidamos a família do Lobato. Eles gostaram muito de ver como a obra é bem cuidada e resolveram doar o material que ainda estava com eles”, lembra Cilza.
Doaram, então, em regime de comodato, o acervo que tinham: cartas, fotografias históricas, livros e até objetos pessoais do autor.
As fotografias são um grande atrativo. Existem alguns retratos de aquarelas e desenhos feitos pelo próprio Lobato. Também estão disponíveis fotografias de família, com o autor ainda criança, e fotos que ele tirou dos filhos.
“Lobato era um fotógrafo incrível. Tinha um olhar, um enquadramento fantástico. É uma outra faceta que só agora estamos conhecendo”, revela a jornalista e pesquisadora.
Monteiro Lobato na web
A idéia de um acervo digital do escritor surgiu durante um projeto sobre a história da leitura e do livro no Brasil, o Memória da Leitura, iniciado na Unicamp pela professora Marisa Lajolo.
“Com a criação do Projeto Temático estamos revendo a obra e a vida de Monteiro Lobato a partir de todos os documentos inéditos disponibilizados”, destaca a pesquisadora Cilza Carla Bignotto, que trabalha com Marisa Lajolo há mais de dez anos.
A especialista em Lobato e coordenadora do Projeto Temático notou a ligação da figura de Monteiro Lobato com a modernização de projetos editoriais de difusão de leitura.
O projeto foi lançado em abril de 2006 e, desde então, já teve mais de 2.500 acessos: “É aquela palavrinha mágica: democratização. Com o acervo digital o acesso é muito fácil, e, além disso, os documentos ficam mais bem conservados, já que cada pesquisador que vai mexer em algum material pode acessá-lo digitalmente”, comenta Cilza.
Para o público em geral também há a possibilidade de conhecer melhor o escritor Monteiro Lobato: “As pessoas podem conhecê-lo como escritor para adultos, jornalista e autor de vários gêneros literários, não só infantil”, diz a pesquisadora.
A intenção é disponibilizar todos os arquivos até 2007: “Esse é um patrimônio de todos os brasileiros ao qual todos agora podem ter acesso”, acrescenta a jornalista.
Matéria produzida para o site Bradesco Universitários em dezembro de 2006.